Quando a gente dá nome para algo novo, ele passa a existir — e, junto, nasce o medo. Foi assim com a internet, com o celular, com o marketing digital. E agora é com a inteligência artificial.
No podcast com o Pedro Massi, conversamos justamente sobre esse desconforto. Muita gente ainda sente que precisa “avisar” quando vai usar IA, como se fosse uma transgressão. “Deixa eu abrir aqui o ChatGPT rapidinho”, a gente diz — quase pedindo desculpa por estar usando uma ferramenta que, no fundo, já faz parte da rotina como o e-mail ou o Google.
Mas a questão central não é sobre usar ou não usar IA. É sobre como a gente usa.
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Trabalhar com, não na IA
As pessoas ainda dizem “vou fazer algo na inteligência artificial”. Esse é o primeiro erro.
A IA não é um lugar. Ela é uma parceira. A gente nunca faz na IA — faz com a IA.
Quando você abre o Spotify, você não “entra” no Spotify. Você interage com ele. Quando abre a Netflix, faz o mesmo. A IA é mais uma dessas camadas invisíveis que já estão embutidas em tudo. Só que quando chega a hora de usar para o próprio trabalho, o medo aparece: e se eu errar? e se não for bom o bastante?
O problema nunca foi a ferramenta. É o processo.
A ferramenta não é fria — o uso é que é
No episódio, falei algo que sempre repito em palestras: a IA não é fria. Ela parece fria quando é usada sem contexto.
A ferramenta só reflete o que você entrega pra ela. Se você dá insumo raso, o resultado vem raso. Se dá profundidade, método, referências, ela devolve escala.
Por isso, costumo dizer que a IA é um profissional júnior curioso. Leu o mundo inteiro, mas ainda não sabe como você faz as coisas na sua empresa, no seu time, no seu projeto. Cabe a você lapidar, ensinar, treinar, dar feedback. É assim que ela cresce.
Da mesma forma que um estagiário não vira especialista no primeiro dia, uma IA não vai entregar excelência sem treino. A diferença é que ela aprende na velocidade da sua constância.
O medo que sobra é o medo de perder o controle
Quando o Pedro perguntou se as pessoas têm medo de serem substituídas, respondi o que realmente acredito: não é substituição, é transformação.
A história mostra que toda tecnologia redistribui funções — e isso é bom.
O que muda é o mapa. Antes, algumas tarefas manuais ocupavam o dia inteiro; agora, sobra tempo pra pensar melhor, criar melhor, decidir melhor.
Se um dia existir uma IA capaz de fazer tudo o que eu faço, espero ser o primeiro a contratá-la — porque isso significaria que eu teria mais tempo pra viver, aprender e ensinar outras coisas.
Aprender a aprender
Minha virada com IA não veio de um curso, mas da curiosidade. Em 2022, um designer do meu time me mostrou o ChatGPT. Eu olhei, achei interessante e segui o dia. Sem perceber, aquele momento virou um marco.
No ano seguinte, participei de mais de 30 eventos como palestrante e quase 200 como aluno. Fui entendendo que o verdadeiro diferencial não era saber usar uma ferramenta nova — era saber aprender.
“Aprender a aprender” é o que me move hoje. E é o que tento ensinar nas mentorias, nas palestras, e aqui.
O que vem agora
Estamos no comecinho da revolução.
É como tentar prever o mundo quando só cem pessoas têm carro. Ou celular.
A diferença é que, dessa vez, a gente tem a caneta na mão.
Podemos escolher co-criar com a tecnologia — dar a ela contexto, ética e propósito. A IA vai continuar evoluindo. A pergunta é: você vai esperar ela decidir o ritmo ou vai escrever junto?

